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Sinal amarelo para pragas e doenças nas lavouras

Evaldo Vilela, fundador da Sociedade Brasileira de Defesa Agropecuária e engenheiro agrônomo pela Universidade Federal de Viçosa, alerta para o aumento expressivo de pragas e doenças nas lavouras brasileiras. Segundo ele, as regiões de uso mais intensivo da terra, com áreas extensas de monocultura, tendem a ter mais problemas do que as regiões onde se pratica uma agricultura com maior diversidade de culturas e num agroecossistema mais diverso. Vilela acredita que o monitoramento de pragas, o desenvolvimento de armadilhas para avaliação da população de pragas, a criação de métodos automatizados e sensores, a coleta e o armazenamento de dados contribuirão decisivamente para a melhoria do MIP (Manejo Integrado de Pragas).
Como o senhor avalia o crescimento/surgimento de pragas e doenças na agricultura brasileira nos últimos dez anos? Quais são as principais causas?
 
Houve, nos últimos anos, maior introdução de novas espécies-praga, como a Helicoverpa armigera, a ferrugem asiática da soja, o amarelinho dos citros e muitas outras, com sérios prejuízos para os produtores brasileiros. Com o crescimento do comércio internacional, a ameaça de entrada de organismos exóticos também vem crescendo e nosso sistema de vigilância, por mais que possa fazer, não tem acompanhado esse ritmo na mesma proporção, principalmente com relação ao uso de novas tecnologias para barrar essa entrada. Houve também valorização significativa das commodities agrícolas, com evolução no uso de tecnologias que resultaram em ganhos expressivos em produtividade, acompanhados, por outro lado, de aumento no custo de produção. Neste cenário, aumentou a atenção dos produtores para os fatores de produtividade, o que levou a uma menor tolerância às perdas provocadas por pragas, valorizando, assim, a questão fitossanitária.
Há alguma região do Brasil mais suscetível a pragas e doenças, onde os produtores são mais desafiados a realizar o controle? Qual e por quê?
 
Em geral, a severidade de pragas e doenças está diretamente relacionada à intensidade com que se pratica a agricultura. Portanto, regiões de uso mais intensivo da terra, com áreas extensas de monocultura, tendem a ter mais problemas do que as regiões onde se pratica uma agricultura com maior diversidade de culturas e em um agroecossistema mais diverso. Por outro lado, surtos de pragas e doenças de plantas são frutos da interação de muitos fatores ambientais, o que leva a considerar caso a caso, em função da predominância da cultura. Focando em soja, milho e algodão, os maiores riscos de surtos estão no Centro-Oeste. No caso do trigo, no Rio Grande do Sul e Paraná, citros e cana-de-açúcar em São Paulo e café no sul de Minas.
 
Como o senhor avalia a aplicação de defensivos nas culturas de soja e milho geneticamente modificadas e resistentes a determinadas pragas? Houve redução de aplicação? São mesmo eficientes?
 
As culturas geneticamente modificadas, com resistência a insetos, têm contribuído de forma decisiva para o manejo das principais pragas, que são alvo da tecnologia Bt atualmente em uso no Brasil. Cerca de 80% das sementes comercializadas de milho e 60% de algodão são transgênicas com resistência a insetos. No caso da cultura do milho se utilizava, em média, três aplicações por safra da cultura. Hoje, dependendo do evento utilizado, não há necessidade de aplicação ou, no máximo, uma aplicação. No algodão, em média com mais de 15 aplicações/safra para lagartas, quando substituído pelo algodão Bt, o número de aplicações cai para 3 a 5. Cerca de 10 aplicações são apenas para o controle do bicudo do algodoeiro, praga não-alvo da tecnologia Bt. A soja Bt, embora já liberada para cultivo, teve apenas uma introdução limitada a poucos produtores nesta safra, mas estará no mercado para a safra 2014/2015. No início do uso das plantas Bts com resistência a insetos-praga, a alta eficiência de controle obtida com essa tecnologia levou muitos produtores a considerarem apenas esse método como suficiente. Em muitos casos foi negligenciado até o uso da área de refúgio, uma prática essencial para a manutenção da eficácia da tecnologia. Hoje se tem recomendado, além de plantas transgênicas , o uso do Manejo Integrado de Pragas , com monitoramento periódico e uso de outros métodos de controle , quando necessário. Até 2012, o Brasil deixou de aplicar cerca de 500 milhões de quilos de defensivos químicos e de emitir aproximadamente 26 bilhões de quilos de dióxido de carbono, graças à adoção dos transgênicos. Interessante notar ainda que, conforme estudos realizados pela empresa Céleres, cerca de 80% dos benefícios financeiros obtidos com o uso das plantas transgênicas ficaram com os produtores agrícolas e com os consumidores.
 
Na cultura do milho, por exemplo, as pragas secundárias estão ganhando importância. Como o senhor avalia esse cenário? Qual é a tendência para essa cultura?
 
No caso específico da cultura do milho, as principais pragas, como a lagarta-do-cartucho, a broca-da-cana-de-açúcar e a lagarta-da-espiga, têm sido relativamente bem controladas pelo milho Bt. Além disso, para estas duas últimas espécies, não há métodos eficientes de controle alternativos ao Bt. Portanto, o produtor não teve uma solução prática para um problema com o qual era obrigado a conviver. Hoje, com vários eventos Bts diferentes no mercado, inclusive alguns combinados ou piramidados em determinados híbridos, a eficácia de controle varia, dependendo do evento e da espécie-praga envolvida. O que se recomenda fortemente é o monitoramento periódico da lavoura, para que medidas adicionais de controle sejam tomadas em caso de necessidade (quando a infestação atingir o nível de ação). Além disso, para o manejo eficiente das pragas em um sistema integrado de culturas, como se tem praticado no agroecossistema brasileiro, é recomendada a adoção de várias práticas culturais com relevante impacto na população dos insetos-praga. Assim, recomenda-se a rotação de culturas, a dessecação antecipada da área a ser utilizada, o manejo eficiente das plantas daninhas e tigueras, o tratamento de sementes e o monitoramento, tanto das pragas-alvo da tecnologia Bt, como das pragas secundárias. No caso específico das culturas transgênicas, outra estratégia essencial é o uso da área de refúgio.
Outras pragas que também atacam a cultura do milho vêm assumindo maior importância nos últimos anos, principalmente em razão da redução das perdas das pragas-chave. Essas outras espécies têm ocorrência mais regional e a importância de cada uma varia de região para região. Por exemplo, tem sido observado um aumento da importância da diabrótica, mas em regiões de mais alta precipitação e áreas irrigadas. Este ano está sendo lançado também um milho Bt para resistência a essa praga, porém o monitoramento do complexo de pragas é de vital importância, visando a medidas adicionais de controle mesmo nas áreas cultivadas com transgênicos. Como algumas pragas são comuns a mais de uma cultura utilizada na mesma área e ano, a tendência é avançar no controle integrado de pragas no sistema integrado de culturas.
E a soja? Como o senhor avalia o surgimento de novas pragas? Quais são as melhores soluções para o maior controle de pragas e doenças para essa cultura? Qual é a tendência?
 
Sem dúvida, a soja é uma das culturas mais importantes para o agronegócio brasileiro. As recentes introduções da ferrugem asiática e da lagarta Helicoverpa armigera têm impactado a cadeia produtiva de maneira significativa, reduzindo a produtividade da cultura e aumentando o custo de produção. O controle da ferrugem asiática da soja com fungicidas tem mudado a prevalência das espécies de lagartas na soja e, este ano, a falsa-medideira, que era uma praga secundária, está sendo mais importante do que as demais, inclusive mais do que a Helicoverpa armigera. A falsa-medideira é uma espécie que prefere as partes baixeiras das plantas, microclima muito favorável para o desenvolvimento de fungos, inclusive os entomopatogênicos, que desempenhavam papel importante no controle dessa espécie. Com o uso intensivo de fungicidas na soja, eles tiveram a sua incidência reduzida, com consequente aumento da população da lagarta falsa-medideira. A partir da próxima safra, já estará disponível no mercado a soja Bt, com grande potencial de controle da maioria dessas lagartas, incluindo as que atacam as plantas recém-eclodidas, as desfolhadoras e as que atacam as vagens. Mas a recomendação continua sendo a mesma para as outras culturas: monitoramento, tanto nas culturas Bts como nas convencionais, e uso de métodos alternativos caso o nível de ação seja atingido, isto é, quando o custo de controle está próximo do valor do prejuízo causado pela praga. A tendência é integrar ao sistema o uso de métodos biológicos, intensificando a preservação do controle biológico natural e a produção artificial de inimigos naturais das pragas, como predadores, parasitoides, nematoides, fungos, bactérias e vírus – todos agentes de controle biológico.
Em relação à cana-de-açúcar, por exemplo, que não é uma cultura global, há o surgimento de novas pragas, porém não há investimento das grandes empresas para maior controle nessa cultura. Como o senhor avalia esse cenário?
 
A cana-de-açúcar é a cultura mais importante na atual matriz energética nacional e, para viabilizar seu uso econômico, é cultivada, estrategicamente, próximo às grandes usinas de produção de açúcar e álcool. Isso, de certa forma, facilita o uso dos métodos biológicos para o manejo das principais pragas. A proximidade das áreas cultivadas permite a instalação de laboratórios para produção em massa dos agentes de controle, bem como a distribuição e a atividade desses agentes, por se tratar de áreas contínuas de cultivo e concentradas. Porém, a revolução imposta pela proibição das queimadas nos canaviais levou à colheita da cana-de-açúcar denominada “cana crua”. Isso reduziu o controle de algumas pragas, como as cigarrinhas e a broca-da-cana. Esta espécie, que vinha sendo mantida sob controle (menos de 1% de infestação) com o bem-sucedido programa de controle biológico – utilizando dois parasitoides, um de ovo (Trichogramma) e outro de larva (Cotesia flavipes) –, subiu, nos últimos anos, para cerca de 10% de infestação em algumas regiões. A nova perspectiva está no lançamento, nos próximos anos, da cana Bt, que poderá integrar o manejo e reduzir significativamente a infestação da cana-de-açúcar pelas lagarta-elasmo e broca-da-cana-de-açúcar. Outra praga que teve seu controle facilitado nos últimos anos foi o besouro de solo, Migdolus, que, com a identificação e uso do feromônio sexual para o monitoramento, sua incidência pôde ser mapeada e o controle, utilizado somente nas glebas infestadas. Assim, a tendência é melhorar o monitoramento e fazer o controle somente onde é necessário, ou seja, o manejo de pragas em sítios específicos.
Além da soja, milho e algodão, a Helicoverpa armigera está presente em outras culturas. Como o senhor vê esse desafio de maior controle da lagarta? Quais seriam as soluções mais eficazes? 
A introdução da Helicoverpa armigera no Brasil realmente tem causado perdas importantes em várias culturas e o prejuízo estimado está em torno de 10 bilhões de reais! O que normalmente se segue à introdução de uma nova praga é o impacto expressivo por perdas muito significativas. É o fator surpresa trabalhando a favor da nova praga. Vários exemplos podem ser citados, mas, para ficar em apenas três, a ferrugem do cafeeiro nos anos de 1970, o bicudo do algodoeiro nos anos de 1980 e, mais recentemente, a ferrugem da soja. A preocupação era se a cultura sobreviveria com esses problemas. Em todos os casos, o que se verificou foi um prejuízo inicial enorme, porém seguido de significativo progresso no manejo das pragas e melhoria do nível de conhecimento científico, tecnológico e cultural, resultando em aumento de produtividade. Isso não quer dizer que será sempre assim ou que se esteja minimizando o problema, mas é importante a reflexão sobre o que tem ocorrido ao longo dos tempos. No caso específico da Helicoverpa armigera, o que vem acontecendo é uma intensa transferência de tecnologia para o manejo dessa espécie, principalmente da Austrália, revendo nossos programas de Manejo Integrado de Pragas – MIP, com introdução e autorização para o uso de novos princípios ativos e bioinseticidas. Também o melhoramento das cultivares comerciais, com a introdução de um ou mais genes Bts, tem grande potencial para gerar resultados favoráveis. A integração de todos esses métodos, na perspectiva de uma prática mais rigorosa do MIP, como o monitoramento mais eficiente das espécies-alvo, deve reduzir as perdas causadas por Helicoverpa armigera para níveis menos problemáticos.
Para o senhor, quais são os principais problemas para a agricultura brasileira caso não haja o controle de pragas e doenças? Quais os desafios nessa área? Quais as principais consequências para os produtores?
 
À medida que se investe em inovação tecnológica para a produção agrícola, melhora-se a produtividade e os produtores rurais se tornam menos tolerantes às perdas e aos riscos elevados. O produtor, assim, cada vez mais investe tempo, cuidados e recursos financeiros no manejo fitossanitário, buscando com isso garantir a lucratividade de seu negócio. Na eventualidade de problemas fitossanitários fora de controle, a cultura agrícola pode ser inviabilizada, como aconteceu em algumas regiões do mundo. No Brasil, o uso intensivo de inseticidas acabou inviabilizando a cultura do algodão devido à incidência de pragas. Felizmente, a adoção do MIP permitiu o retorno dessa cultura nos locais onde isso ocorreu. A solução para os problemas com certeza virá com o maior investimento dos governos estaduais e federal em ciência e tecnologia para a defesa agropecuária. Pesquisa de excelência e inovação são as respostas para manter as cadeias produtivas da agropecuária com excedentes exportáveis, uma aptidão natural do Brasil.
Para o produtor, quais as soluções mais eficientes e as técnicas de aplicações mais modernas no mercado para o controle de pragas? O que o produtor pode esperar para os próximos anos em relação ao surgimento de novas pragas? Como se proteger?
 
Sem dúvida, a biotecnologia e a eletrônica são as duas vertentes com maior potencial de contribuição para revolucionar o atual sistema de produção agrícola no país. A transgenia é apenas uma parcela do que a biotecnologia tem a oferecer à sociedade. Muitos novos produtos e oportunidades de negócio surgirão com os avanços científicos. Novas gerações de transgênicos estão a caminho, como, por exemplo, para a melhoria da qualidade dos produtos e resistência à seca. A geração de cultivares de plantas visando à produção de biofármacos e de biocombustíveis criará novas oportunidades de negócios. A eletrônica está no início de sua contribuição para o manejo das culturas. A agricultura de precisão chegou para revolucionar práticas convencionais. Hoje, tem-se um controle durante a semeadura que não se tinha antes e o bom plantio é o primeiro passo para se obter alta produtividade. No monitoramento de pragas, que constitui um dos gargalos para as boas práticas no manejo integrado, o desenvolvimento de armadilhas para monitoramento da população das pragas, o desenvolvimento de métodos automatizados e de sensores, a coleta e o armazenamento de dados – tudo isso irá contribuir decisivamente para a melhoria do MIP. É imperativo reafirmar que o sucesso da nossa agricultura – que se deve a muitos fatores – se deve sobretudo ao empreendedorismo do produtor rural brasileiro, à sua crença na tecnologia e à sua capacidade de empreender, de correr riscos. Com tamanho patrimônio, o país certamente encontrará solução para os problemas que irão desafiar a agricultura na produção de alimentos, fibras e energias.
Fonte: Portal KLFF

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